O que fizeram com Jerônimo Rodrigues nos últimos dias não é apenas injusto — é cruel. É a tentativa deliberada de destruir moralmente um homem que tem como única “falha” a coragem de dizer o que a maioria silencia. A frase dita por ele, sobre “enterrar numa vala os eleitores do ex-presidente Bolsonaro”, foi recortada, distorcida e explorada de forma covarde por setores que nunca engoliram o fato de um homem negro, nordestino, cristão e de terreiro, ocupar um dos cargos mais importantes do país sem abandonar suas raízes, sua fala e sua conexão com o povo.
A expressão utilizada por Jerônimo é parte do vocabulário popular. Ela não tem conotação literal — não fala de morte física, nem de violência contra pessoas. Fala, sim, da necessidade simbólica de sepultar um tempo de horrores. Um tempo em que a presidência da República se tornou um palanque de desprezo pela vida. Em que o povo pobre foi tratado como peso morto. Em que os nordestinos foram chamados de parasitas. Em que a fome voltou, os direitos sumiram, e o ódio foi institucionalizado. Jerônimo não estava incitando nada — estava libertando uma dor que o Brasil ainda não teve coragem de nomear.
Não é de hoje que lideranças como Jerônimo sofrem esse tipo de perseguição. A história está cheia de exemplos de vozes populares sendo caladas porque ousaram confrontar as estruturas. Mas o que assusta, agora, é a frieza com que certos setores da imprensa e da política resolveram alimentar uma mentira, mesmo sabendo que estão distorcendo a fala de um homem que sempre foi coerente, pacífico e respeitoso. Esses mesmos setores que, por quatro anos, fingiram que não viam os ataques à democracia, agora se dizem “escandalizados” por uma frase que sequer compreendem em seu contexto real.
Jerônimo Rodrigues não é um aventureiro. É professor, é filho da terra, é homem de fé. Sua caminhada até o governo foi feita com suor, com escuta, com respeito à ancestralidade e ao povo baiano. A fala que agora tentam enterrar foi, na verdade, uma tentativa de dar voz ao sentimento coletivo de quem quer virar a página. Enterrar o bolsonarismo como modelo político e espiritual do país não é intolerância. É higiene democrática. E se isso incomoda, é porque ainda há muitos lucrando com o passado.